A internet nos dá a permissão de ter contato com outros povos, outras culturas e países, nessa convivência com "outro" mundo, traço aqui um comparativo e chego a óbvia resposta que: "O Brasil é um país de sobreviventes".
Não só de forma política, mas também de gestão, de atividades empreendedoras. Ao comparar a postura de outros países percebi algo interessante, nos países com identidade formada existe um componente cultural que liga as pessoas em um objetivo comum e a forma como elas percebem-se em sociedade determina o comportamento ativo sobre os problemas de ordem política e social.
Somos um povo passivo que pouco interage com os problemas políticos, mesmo nas dificuldades individuais a maioria das pessoas assume uma postura passiva diante dos problemas. Nossa percepção empresarial parece ser superficial e pouco comprometida com resultados sociais quando comparado com outros países. Acredito que este comportamento seja um reflexo de nossa origem escrava e fruto do regime de repressão que nossa sociedade viveu durante a chamada “ditadura”. Aprendemos a sobreviver dias após dia, mas sobreviver não é progredir.
No comportamento de sobrevivência o direcionamento do raciocínio, percepção e postura são voltados para soluções imediatas, sem uma estratégia para resultados de longo prazo. Observe que o sobrevivente vive preocupado em manter-se, não existe uma estratégia para qualidade de vida ou crescimento. Como a preocupação é individual, o sobrevivente não costuma atuar ou organizar-se em grupos e sofre de grande impaciência.
Seja uma reunião no congresso nacional ou o simples ato de votar, se não for obrigatório e punitivo em caso de ausência, existe uma tendência de apenas uma minoria comparecer. Os sobreviventes não aparecem, estão trabalhando para tentar sobreviver sem se preocupar com o futuro.
Até nossos governantes trabalham para sobreviver e não para progredir ou gerar qualidade de vida. Tributações altas e emergenciais, acordos internacionais sem estratégias bem elaboradas e por ai vai. Vários foram os acordos internacionais que prejudicaram o mercado nacional e a culpa foi jogada na globalização, nossa tributação então, nem se fala. Eu acredito que não é a globalização, mas sim nosso comportamento sobrevivente e superficial que gerou a crise atual. Negociamos errado, não sei qual é o certo, mas sei que não o fizemos.
O próprio ato de jogar a culpa em outra pessoa ou evento é coerente com o comportamento do sobrevivente, observe que precisar sobreviver é um problema de quem é vitima de alguém ou algum evento. Para o sobrevivente sempre existe um culpado, que não seja ele.
Um sobrevivente não pode ser responsabilizado ou punido, afinal ele esta apenas tentando sobreviver. Vários são os exemplos do comportamento de sobrevivência, lembrando que sobreviver significa ser superficial e até egoísta. Um ladrão é ladrão porque precisa sobreviver.
Observe que somos um país tão sobrevivente que apenas 10% dos crimes, fraudes, e furtos são punidos e 80% das novas empresas não completam seu ciclo de vida. Teoricamente como ladrão teríamos 90% de possibilidade de sucesso, enquanto como empreendedores apenas 20%.
Você já deve ter ouvido falar que a lei apóia os ladrões assim como os direitos humanos. Isso não é verdade. Tanto as leis como os direitos humanos foram criados para proteger os sobreviventes. A sobrevivência é tão forte que até possuímos orgulho dela, o próprio governo e empresas privadas espalham campanhas na televisão e frases como “Sou brasileiro, não desisto nunca”, reforçando o comportamento de sobrevivência.
Não acredito que tenhamos de esquecer a sobrevivência, mas precisamos perceber que sobreviver é apenas uma pequena parte do processo. No Brasil uma pessoa que sobrevive por muito tempo é considerada herói. Em outros países estas mesmas pessoas podem ser consideradas burras. Imagine ficar tanto tempo sem evoluir, sem novas alternativas, ali estagnadas apenas sobrevivendo.
Existem muitas teorias sobre como solucionar o problema político e social, eu acredito que ajudaria se conseguirmos diferenciar claramente o significado de sobreviver e progredir. Muitos dos nossos empresários e políticos, quando perguntado o que é progredir definiram atos de sobrevivência como geração de progresso, citando soluções emergenciais e de caráter imediato. Exatamente da mesma forma que os nossos governantes agem diante dos problemas, assim agem os empresários e as pessoas em geral.
Falamos sobre sobreviver, mas o que é progredir?
Na realidade também estou descobrindo aos poucos o significado do comportamento empreendedor voltado para o progresso, então assim como na sobrevivência, também posso estar equivocado quanto uma ou outra questão relacionada ao tema progresso.
Dentro dos eventos que vivenciei até o momento, acredito que o progresso caminha no sentido contrário ao da sobrevivência, para progredir precisamos estar estimulados para atuar em grupos organizados e assumir responsabilidades de longo prazo. A constatação de que uma pessoa sozinha é sobrevivente enquanto em grupo progride, me parece coerente.
Imagino que os professores, independente da área de atuação, devam estimular de forma eficiente a participação social e o perfil empreendedor de seus alunos. Para que isso ocorra é importante que o instrutor tenha domínio sobre os dois temas citados. Como a solução para o progresso, esta na minha opinião, relacionada com a mudança de comportamento e a formação dos futuros profissionais e membros ativos da sociedade, não consigo enxergar uma resposta de curto prazo.
Acredito que programas de incentivo dentro das escolas sejam fundamentais, o difícil é convencer os administradores e diretores das necessidades emergentes. Aos empresários cabe apoiar e participar de programas bem elaborados que mostrem resultados de capacitação e possibilitem aos indivíduos buscarem o progresso e não a simples sobrevivência.
Gostaria de chamar atenção para o fato do progresso só ocorrer em grupos, isso significa que só poderei progredir se meus colegas também progredirem. Em resumo, preciso estar rodeado de pessoas comprometidas com o sucesso para evoluir. Enquanto não nos percebermos como pessoas e governantes comprometidos com o progresso, ser empreendedor neste país vai continuar sendo uma tarefa muito sofrida, os nossos governantes vão nos consumir cada vez mais com mentiras, corrupção, altas taxas e impostos.
Não importa quem elegermos como vilão ou culpado dos nossos problemas sociais e empresariais, se não pararmos com a cultura do sobrevivente, não existirá progresso real.
Não devemos esquecer que progresso só ocorre em grupos onde pessoas estão comprometidas com o sucesso.
Não quero sobreviver, quero progredir. E você?
(Extraído e adaptado)